segunda-feira, 26 de maio de 2008

Cada vez mais caro



Em tempos em que a cotação do barril do petróleo no mercado internacional quebra um recorde atrás de outro, tendo ultrapassado a marca dos US$ 130, a pergunta que se impõe é: por que os preços do petróleo não param de subir?


O fundamento principal para a alta na tendência dos preços de petróleo, de acordo com livro que acaba de ser lançado por professores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a incerteza sobre demanda e oferta futuras do óleo.


Incertezas que, de acordo com o livro Textos de Discussão em Geopolítica e Gestão Ambiental de Petróleo, afetam os investimentos em novos projetos em exploração e produção de petróleo, o que acaba dificultando e até impedindo o equilíbrio no mercado e uma cada vez mais improvável queda nos preços do combustível.


A obra, organizada por Alexandre Salem Szklo e Alessandra Magrini, é resultado de estudos desenvolvidos nos últimos três anos em duas disciplinas de doutorado do Programa de Planejamento Energético da Coppe: mercado internacional de petróleo e sua geopolítica e gestão ambiental na indústria do petróleo.


“Trata-se de uma coletânea de versões modificadas de artigos – em sua maioria publicados em revistas indexadas no Brasil e no exterior – que trazem resultados de dezenas de estudos nessas duas grandes áreas de trabalho da Coppe”, disse Szklo à Agência FAPESP. Em suas 424 páginas o livro traz 24 artigos.


“Os textos são independentes, mas fazem parte de um conjunto de argumentos que explicam por que a indústria do petróleo enfrenta uma situação de tensão mundial associada tanto à escassez e dificuldade de acesso ao óleo como aos problemas que envolvem o refino e o mercado crescente de derivados de petróleo nos países emergentes”, explicou.


Na linha de pesquisas em geopolítica de petróleo, segundo Szklo, o elo entre os vários estudos é justamente o preço. Para isso, não poderiam ficar de fora discussões sobre o mercado chinês do produto e a contribuição da evolução da economia daquele país para a trajetória ascendente nos preços.


“Nessa área do conhecimento temos ainda discussões importantes sobre as diferenças de preço entre petróleos de melhor e pior qualidade, o acesso às reservas, os gargalos que envolvem o refino do óleo no país e até os problemas da competição entre etanol e gasolina para a indústria mundial de petróleo, fatores que também influenciam a qualidade e o preço final do produto”, afirma Szklo.


Em relação às questões ambientais, são discutidas no livro as relações entre a indústria e o meio ambiente, em especial os instrumentos e políticas ambientais como parte das estratégias empresariais.


“Nessa parte são discutidos desde aspectos de gestão corporativa a impactos ambientais na cadeia do petróleo, abordando temas como o reúso de água em refinarias”, disse.


“Indústria química brasileira e o desenvolvimento sustentável”, “Estudo de localização para instalação de uma refinaria de petróleo no estado do Rio de Janeiro” e “Análise comparativa das condições e padrões de lançamento de efluentes nos corpos hídricos brasileiros” são temas de artigos dessa parte da obra.

Compreensão da tendência de alta
O livro aponta que uma das principais explicações para as incertezas nos preços se fundamenta na idéia de que não se conseguirá, em breve, repor as reservas de petróleo no mundo, o que aumentaria a pressão sobre os preços.


“A evolução do preço do óleo no Brasil é condicionada pelas cotações internacionais do barril. Isso porque o país não é um produtor capaz de afetar o valor no mercado mundial. Por mais que a Petrobras aumente a produção, isso acaba não tendo influência no preço final do petróleo pelo fato de ele ser uma commodity transacionada internacionalmente”, explicou Szklo.


“Por outro lado, o aumento na produção local diminui a dependência do país do mercado internacional. Com a produção e refino, a Petrobras, por exemplo, fica sujeita à oscilação de custo, e não de preço, conseguindo assim dominar parte da volatividade de preços do óleo para o consumidor final”, disse.


O Brasil, lembra o professor da Coppe, exporta hoje cerca de 600 mil barris de petróleo por dia a aproximadamente US$ 80. Por outro lado, importa em torno de 300 mil barris por dia, de um tipo mais fino, a US$ 130, principalmente para abastecer o mercado interno de diesel.


Outra explicação importante para a alta nos preços é que o mercado de petróleo está assistindo ao retorno de uma “geopolítica dura” em que, após um período em que o balanceamento de oferta e demanda era fruto da dinâmica de mercado, os aspectos geopolíticos da oferta estariam retomando sua relevância na determinação dos preços.


O livro aponta não haver evidências de que, como em outros momentos, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) esteja criando escassez de petróleo para definir um patamar mais alto de preços. “Ao contrário, as evidências internacionais mostram que os preços têm crescido a despeito dos esforços da organização em estabilizar o mercado”, salientou Szklo.


“É verdade que tensões geopolíticas no Oriente Médio, na Nigéria e na Venezuela têm contribuído para o aumento, mas a Opep, ainda que possa se beneficiar de sua influência sobre os valores, não controla tais eventos e tensões”, disse Szklo, que assina o primeiro artigo da obra, intitulado “Diálogo socrático sobre a tendência do preço do petróleo”.


A publicação é destinada a estudantes de graduação e pós-graduação de áreas como economia, engenharia e planejamento energético, planejamento ambiental e demais interessados no assunto.


Textos de Discussão em Geopolítica e Gestão Ambiental de Petróleo Organizadores: Alexandre Salem Szklo e Alessandra Magrini Lançamento: 2008 Preço: R$ 83 Mais informações: www.editorainterciencia.com.br

Fonte: Agência Fapesp

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Novo gene que causa câncer é descoberto

Um novo gene responsável pelo desenvolvimento de diversos tipos de cânceres foi identificado por cientistas do Instituto do Câncer da Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos. De acordo com o estudo, o gene e sua proteína, denominados RBM3, são vitais para a divisão celular nas células normais.


Os baixos níveis de oxigênio nos tumores, segundo o trabalho publicado na revista Nature, causam elevado aumento da quantidade dessa proteína, provocando uma divisão sem controle das células cancerosas e levando a um aumento do tumor em formação.


Para chegar a essas conclusões, os cientistas usaram novas tecnologias que silenciam geneticamente a proteína e reduzem o nível de RBM3 em células cancerosas. A nova técnica, que fez com que o tumor parasse de crescer até a morte celular, foi testada com sucesso em vários tipos de cânceres, entre os quais mama, pâncreas, cólon, pulmão, ovário e próstata.


“Estamos muito animados com essa descoberta, uma vez que a maioria dos cânceres se desenvolve a partir de mutações nos genes e os nossos estudos, pela primeira vez, mostraram que muitas proteínas desse tipo realmente fazem com que células normais se transformem em células cancerosas”, disse o coordenador da pesquisa, Shrikant Anant.


Anant explicou que a proteína RBM3 pode ser encontrada em todas as fases de muitos tipos de cânceres, sendo que a quantidade de proteínas aumenta com o desenvolvimento da doença. Segundo ele, a proteína contribui para que a doença se prolifere mais rapidamente no organismo humano, evita a morte celular e integra o processo responsável pela formação de novos vasos sangüíneos que alimentam o tumor.


“Esse processo, chamado angiogênese, é essencial para o crescimento tumoral e sugere que terapias que tenham a RBM3 como alvo podem ser ferramentas extremamente poderosas contra muitos tipos de tumores sólidos”, afirmou Anant, que é professor do Departamento de Medicina e Biologia Celular do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Oklahoma.


Os pesquisadores identificaram ainda que a RBM3, por ser significativamente regulada em tumores humanos, é responsável pelo aumento de tumores do cólon. Ao expressar a proteína em fibroblastos (células do tecido conjuntivo) de camundongos e em células epiteliais do cólon humano, eles verificaram um aumento na proliferação celular, enquanto a baixa regulação da RBM3 em células com câncer de cólon diminuiu o crescimento das células em cultura.


O próximo passo de Anant e equipe é desenvolver agentes capazes de bloquear a proteína em uma grande variedade de tumores. Eles estimam que os ensaios clínicos, a serem realizados na própria universidade norte-americana, terão início em cerca de cinco anos.


O artigo Translation regulatory factor RBM3 is a proto-oncogene that prevents mitotic catastrophe de Shrikant Anant e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com/onc

Fonte: Agência Fapesp

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Ave, réptil ou mamífero?

Seqüenciamento do genoma do ornitorrinco, publicado na Nature, mostra que características inusitadas do animal que produz leite, põe ovos e lança veneno estão também presentes geneticamente
Não há nada igual. Quando exemplares do ornitorrinco (Ornithorhynchus anatinus) foram enviados da Austrália para a Inglaterra, em 1798, causaram tamanho espanto que os cientistas britânicos consideraram se tratar de uma farsa.

Não é para menos, pois o estranho animal desfila uma lista de características inusitadas. Para começar, é um mamífero que põe ovos. Em seguida, combina um couro espesso que permite a permanência em águas geladas com um bico semelhante ao de um pato – bico que tem um sistema sensorial usado para buscar alimentos na água. O macho conta ainda com esporão capaz de disparar poderoso veneno para afugentar predadores ou competidores.

Tudo isso tem aguçado, desde o século 18, o interesse da ciência pelo representante da ordem dos monotrematas. Agora, um grupo internacional acaba de dar a mais valiosa contribuição ao conhecimento do ornitorrinco, com o seqüenciamento de seu genoma.

Publicada na edição de 8 de maio da revista Nature, a análise revela que as características únicas do animal não se resumem ao seu exterior, mas são também destacadas geneticamente. A seqüência foi comparada com as do homem, camundongo, cão, gambá, frango e lagarto.

Os pesquisadores descobriram que o genoma do ornitorrinco tem aproximadamente o mesmo número de genes que codificam proteínas que o genoma dos demais mamíferos – cerca de 18,5 mil. Ele também compartilha mais de 80% de seus genes com outros mamíferos cujos genomas foram seqüenciados.

Bico de pato à parte, os cientistas verificaram no genoma do animal, além de detalhes de mamíferos, características comuns aos répteis. A principal foi a presença de genes associados à fertilização de ovos. Outra é a presença de poucos receptores olfativos, diferente dos demais mamíferos.

O grupo também descobriu que o veneno produzido pelo animal deriva de duplicações em determinados genes durante a evolução, que foram herdados de ancestrais répteis.

“À primeira vista, o ornitorrinco aparenta ser resultado de um acidente evolucionário. Mas, independentemente de sua aparência estranha, a seqüência de seu genoma é muito valiosa para compreender como os processos biológicos fundamentais dos mamíferos evoluíram. Comparações de seu genoma com os de outros mamíferos levarão a novas descobertas a respeito da história, estrutura e funcionamento do nosso próprio genoma”, disse Francis Collins, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, nos Estados Unidos, que financiou parte do estudo.

“Com o seqüenciamento, poderemos identificar quais genes foram conservados, quais foram perdidos e quais se transformaram durante a evolução dos mamíferos”, disse Richard Wilson, da Escola de Medicina da Universidade Washington, um dos autores da pesquisa.

O artigo Genome analysis of the platypus reveals unique signatures of evolution, de Wesley Warren e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

Fonte: Agência Fapesp