segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Múltiplas dimensões do crime em análise

Por Fábio de Castro
A revista Estudos Avançados termina o ano com uma análise profunda sobre um dos problemas mais graves e complexos do Brasil na atualidade. O dossiê “Crime organizado” é o destaque da 61ª edição da publicação do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).

O lançamento da revista será no dia 12 de dezembro, na sede do IEA, mas haverá pré-lançamento nesta segunda-feira (26/11), durante o Seminário Internacional sobre o Crime Organizado, realizado pelo Centro de Estudos da Violência da USP – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP, também conhecido como Núcleo de Estudos da Violência (NEV).

De acordo com Marco Antônio Coelho, editor executivo da revista, o dossiê mescla estudos científicos e reportagens para compor um quadro abrangente dos aspectos múltiplos e controversos ligados ao tema.

“Buscamos especialistas de diversas áreas e combinamos essa contribuição com entrevistas com alguns dos principais especialistas e atores sociais envolvidos com o tema, a fim de explorar suas diversas dimensões”, disse Coelho à Agência FAPESP.

O editor conta que o dossiê e o seminário foram iniciativas independentes que terminaram por gerar colaboração. “Quando começamos a preparar o dossiê, entramos em contato com o NEV para buscar orientações e descobrimos que, coincidentemente, eles estavam preparando o evento. Muito do que foi debatido na publicação será desenvolvido no seminário”, disse.

Coelho conta que o sociólogo Sérgio Adorno, um dos coordenadores do NEV, e o antropólogo Luiz Eduardo Soares, que foi secretário Nacional de Segurança Pública, apoiaram diretamente a produção do dossiê. Adorno prefaciou a edição.

“Eles nos deram várias das indicações sobre especialistas e temáticas a serem abordadas. A partir daí, fomos procurar outros nomes que tratam do tema na prática, como a direção da Polícia Federal, agentes da Pastoral Carcerária, delegados, promotores, advogados e juízes”, disse.

Um dos destaques da edição é a reportagem “De batedor de carteira a assaltante de bancos”, feita a partir de depoimento de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, conhecido como líder da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

“Tive acesso ao depoimento concedido por Marcola no presídio de Presidente Bernardes, a partir de uma pesquisa feita na documentação da Comissão Parlamentar de Inquérito do tráfico de armas”, explicou Coelho, autor do texto.
Políticas de segurança
Outros artigos tratam de reflexões sociológicas sobre a criminalidade organizada nas prisões, as ações do PCC, interpretações políticas globalizantes, o trabalho de inteligência da polícia, a Política Nacional de Segurança Pública, a representação da violência nos documentários nacionais.

Um dos textos trata do Acordo de Palermo, documento internacional voltado para o combate ao crime organizado, ao qual o Brasil aderiu formalmente, “o tratado determina o que é crime organizado. Há muita discussão sobre isso, uma vez que a legislação penal brasileira não faz essa definição. Ele não pode ser confundido, por exemplo, com terrorismo, que tem motivação política – e não a obtenção de lucro – como característica fundamental”, disse.

Outra discussão de destaque é o preparo da polícia para enfrentar o problema do crime organizado. “A má remuneração, que leva o policial a fazer serviços paralelos, a precariedade dos sistemas de inteligência, a falta de preparo e de equipamentos foram apontados como fatores que dificultam o combate ao crime organizado”, afirmou Coelho.

Outro artigo diagnostica a ineficiência das políticas públicas na área. “Quando há uma massa de pequenos traficantes, para os quais o tráfico é uma alternativa ao desemprego, como se pode sustentar a repressão? Colocar todos na cadeia e pressionar ainda mais a lotação dessas escolas de crimes que são as penitenciárias não parece uma boa solução”, destacou.

Alba Zaluar, coordenadora do Núcleo de Pesquisas das Violências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), assina o artigo “Democratização inacabada: fracasso da segurança pública”. “O trabalho da inteligência no controle do crime organizado” é a contribuição do sociólogo Guaracy Mingardi, pesquisador do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente.

Luiz Eduardo Soares assinou “A política nacional de segurança pública: histórico, dilemas e perspectivas”, o delegado da Polícia Federal Getúlio Bezerra Santos escreveu “A hora e a vez de derrotar o Crime Organizado”.

Outros artigos tratam de temas como “Organizações criminosas e Poder Judiciário”, “Mapa das mortes por violência”, “Cidade e práticas urbanas: nas fronteiras incertas entre o ilegal, o informal e o ilícito”, “Racionalidade e legitimidade da política de repressão ao tráfico de drogas: uma provocação necessária”, “A realidade dos presídios na visão da Pastoral Carcerária” e “A imagem, o som e a fúria: a representação da violência no documentário brasileiro”.
Fonte: Agência Fapesp

Aparelho que baixa livros e jornais e promete revolucionar a leitura

O ipod das letras
Por Lena Catellón
Jeff Bezos, o fundador da livraria online Amazon, não quer ser comparado a Steve Jobs, o dono da Apple. No entanto, ele tem em mãos um bem que julga tão precioso quanto o iPod, o aparelho da Apple que é sinônimo de tocador de música digital. Na semana passada, Bezos lançou um equipamento capaz de se transformar em biblioteca portátil. O Kindle custa US$ 399, tem espessura pouco maior do que a de um lápis e mede 19,05 cm de altura por 13,4 de largura. Como um livro. Mas com a diferença de permitir a leitura de 200 títulos, ou até mais, caso seja acrescido de cartão de memória. Já se diz que o Kindle é uma espécie de iPod dos livros. Por meio do dispositivo, o usuário monta uma “estante” com as opções vendidas exclusivamente na Amazon – são 90 mil, a US$ 9,99 cada uma. Há ainda assinaturas de blogs e publicações do porte do The New York Times.


Para Bezos, o Kindle representa uma revolução na leitura. Seu display funciona como um papel eletrônico de alta resolução, igual a uma página impressa, porém com muito mais recursos. Para compreender uma palavra ou um fato histórico citado na obra, podem-se buscar informações online pelo aparelho. Ele também faz a localização imediata de um trecho: basta digitálo pelo teclado do equipamento. A página do Kindle tem seis tamanhos de letras e é legível sob o sol. MeMelhor, portanto, do que a tela de um laptop. Além disso, o equipamento, que tem bateria de 30 horas, é wireless. “Se estiver na cama ou no trem, você pode obter um livro em 60 segundos. Nenhum computador é necessário. Você faz a compra direto do aparelho”, diz Bezos. A tecnologia do Kindle difere da dos demais leitores de e-books porque emprega uma rede de banda larga utilizada em celulares de última geração nos EUA. Seu sistema pode ser acionado em qualquer lugar. Porém isso limita seu uso ao mercado americano.

"VOCÊ PODE OBTER UM LIVRO EM 60 SEGUNDOS. NENHUM COMPUTADOR É NECESSÁRIO" Jeff Bezos

A conectividade do Kindle, bancada somente pela Amazon, abre as portas para um novo mundo. No futuro, quando houver outros modelos do gênero, um escritor lançará trabalhos com muito mais rapidez se escolher a via digital. Há quem não suporte a idéia. John Updike, dois prêmios Pulitzer, declarou que será um “eremita rude” recusando-se a sair da caverna para encarar as vilas eletrônicas. É inegável que um livro de verdade evoca prazeres que, por enquanto, o e-book não consegue repetir. Emprestar ou presentear a obra preferida a um amigo, por exemplo. O Kindle impede o compartilhamento do arquivo. Mas permite que o usuário faça anotações “à beira da página”, imitando a mania de muitas pessoas que rabiscam pensamentos no livro. Tem a mesma graça? É uma boa discussão.

Fonte: Isto É

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Nasa descobre maior número de planetas em sistema extra-solar

Um recorde. O anúncio feito nesta terça-feira, pela Nasa, a agência espacial norte-americana, confirma a descoberta de um quinto planeta em órbita da estrela 55 Cancri. Trata-se do maior número de planetas extra-solares em um único sistema de que se tem notícia.

A estrela está próxima, localizada a 41 anos-luz na constelação de Câncer, e tem massa e idade semelhantes às do Sol. Da Terra, é visível até mesmo com lunetas. A descoberta foi feita por um grupo de astrônomos por meio do efeito Doppler, no qual o empuxo gravitacional de um planeta é detectado pelo movimento que ele produz em sua estrela.

“É incrível como tem aumentado a nossa capacidade de identificar planetas extra-solares. Estamos descobrindo sistemas comparáveis com o nosso Sistema Solar com relação a riquezas e variedades de tipos de planetas”, disse Alan Stern, administrador do Diretório de Missões Científicas da Nasa.

Segundo a agência, o planeta recém-descoberto tem cerca de 45 vezes a massa da Terra e pode ter aparência e composição semelhantes às de Saturno. O planeta é o quarto a partir da estrela 55 Cancri e completa uma órbita a cada 260 dias.

Sua localização o coloca no que os astrônomos chamam de “zona habitável”, uma faixa em torno de uma estrela na qual a temperatura permitiria que água líquida corresse por superfícies sólidas. A distância do planeta a sua estrela é de cerca de 116,7 milhões de quilômetros, um pouco mais perto do que a Terra se encontra do Sol.

“Os gigantes gasosos no nosso Sistema Solar têm grandes luas. Se houver uma lua em órbita desse novo planeta, ela poderá ter grandes formações de água em estado líquido em sua superfície rochosa”, disse Debra Fischer, da Universidade Estadual de São Francisco, que participou da observação. A descoberta será publicada futuramente no Astrophysical Journal.

Ao lado de Geoff Marcy, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e de diversos colaboradores, Debra descobriu o planeta após análise de cerca de 2 mil estrelas próximas com ajuda dos telescópios localizados nos observatórios Lick, na Califórnia, e W.M. Keck, no Havaí.

“Para descobrir esses cinco planetas foram precisos 18 anos de contínuas observações. Quando começamos, não se conhecia um único planeta além do Sistema Solar. Mas a descoberta desse sistema planetário é apenas mais um passo na busca por planetas semelhantes à Terra”, disse Marcy.

Animações dos planetas da estrela 55 Cancri e mais informações estão no site da Nasa, em http://www.nasa.gov/audience/formedia/telecon-20071106.
Fonte: Agência Fapesp

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Pesquisadores desmistificam que escravos não sabiam ler nem escrever

A crença, difundida por muito tempo, de que os escravos trazidos para o Brasil não sabiam ler nem escrever faz parte da representação negativa dos povos africanos construída pela colonização portuguesa. Mas uma pesquisa publicada na Revista Brasileira de Educação levanta indícios de que havia uma “disseminação da cultura escrita”, das mais variadas formas, entre escravos e alforriados.

De acordo com a professora Christianni Cardoso Morais, do Departamento de Educação da Universidade Federal de São João del-Rei, em Minas Gerais, os dados coletados para o estudo, a partir de análises de anúncios de jornais e de assinaturas em documentos como testamentos e processos-crime, lançam luz sobre um tema pouco estudado na história da educação no país.

“O estudo pretende contribuir para desmistificar a idéia de que os escravos e forros, mesmo iletrados, não sabiam se utilizar do escrito em seu cotidiano, em uma época em que eram proibidos legalmente de freqüentar escolas públicas no país”, disse Christianni à Agência FAPESP.

A pesquisa se concentrou na região da Comarca do Rio das Mortes, na vila de São João del-Rei, em Minas Gerais, no período que vai de 1731 a 1850. Segundo a historiadora, a delimitação geográfica se justifica pela importância econômica e cultural que o município conquistou no final do século 18. E o recorte temporal seguiu a lógica imposta pela própria documentação, que é mais abundante naqueles anos.

“A praça comercial de São João del-Rei exercia a função de entreposto, pois era um dos principais centros de exportação dos produtos mineiros e de redistribuição das mercadorias trazidas da Corte. Tinha ainda vida política e cultural muito intensa. Além disso, contava com uma biblioteca pública e uma imprensa periódica bastante significativa no cenário brasileiro. Uma região com tamanha importância gerou grande quantidade de documentos”, explicou.

A pesquisadora analisou um universo de 1.612 documentos produzidos entre 1731 e 1850. As principais fontes foram relatórios do Ministério da Agricultura, analisados por Marcus Vinícius Fonseca, no livro Educação de negros, testamentos e processos-crime e nos anúncios do jornal O Astro Minas, que circulou nesse período.

Nos anúncios – fontes já utilizadas por Gilberto Freyre – há, em muitos casos, a descrição física e também das habilidades dos escravos foragidos ou à venda. Eram descritas marcas, escarificações, cicatrizes provocadas por acidente de trabalho, além das habilidades dos escravos: se tocavam algum instrumento musical, se sabiam ler, escrever, seus ofícios, entre outros.

“Ter profissões especializadas, como ofícios de alfaiate, pedreiro, carpinteiro, que exigiam a utilização de medidas e cálculos cotidianamente, indica um grau bastante refinado de letramento, que é o termo que utilizo na pesquisa para entender os usos sociais, cultural e historicamente atribuídos à palavra escrita”, afirmou Christianni.

Segundo ela, o fato de os escravos e forros solicitarem que alguém lhes escrevesse um documento ou o próprio ato de roubar uma carta de alforria alheia e de usá-la como se fosse sua também demonstram que os cativos sabiam se utilizar da palavra escrita, mesmo não sendo identificados na documentação como capazes de ler e escrever.

Para determinar os graus de “letramento” dos escravos, Christianni utilizou um método de análise das assinaturas a partir de uma escala desenvolvida pelo português Justino Magalhães, que tem cinco níveis. Segundo a escala, o nível 1 corresponde à utilização de siglas ou sinais; o 2 à assinatura rudimentar, de “mão guiada”; o nível 3 indica uma assinatura normalizada; o nível 4 registra uma assinatura caligráfica e o 5 apresenta uma assinatura personalizada, criativa.


Análise de assinaturas
“Fotografei assinaturas e analisei os traços dos assinantes tomando como referência a caligrafia da época. O objetivo foi perceber se a pessoa tinha um traço firme, bem organizado e bem distribuído na folha. Se conseguia fazer arabescos, se ligava as letras umas às outras e se tinha uma boa escrita cursiva, o que não era fácil de se fazer na época, porque o ensino da leitura e da escrita estavam dissociados. Primeiro se aprendia a ler e depois a escrever. Então, se o assinante se encaixa no nível 2, provavelmente sabia ler alguma coisa”, explicou.

A pesquisadora chama a atenção para o fato de que o método não é exato nem preciso. Mas, devido à ausência de fontes diretas, as assinaturas foram utilizadas como fontes históricas, sobretudo pelo poder simbólico que adquiriam entre os assinantes.

Outro aspecto importante é que o ensino da leitura e o da escrita de forma combinada só se disseminou mesmo depois de 1850. De acordo com ela, “a partir dessa data encontram-se pessoas com assinaturas maravilhosas, mas que não sabiam ler. A partir daí, não é mais possível aplicar as escalas de assinaturas.”

“O fato de os sujeitos afirmarem que eram capazes de assinar, apesar de não conseguirem fazê-lo em determinadas circunstâncias, revela o quanto eles podiam, a partir do momento em que sabiam assinar, aumentar seu status em uma sociedade basicamente iletrada”, destacou.

Para ler o artigo Ler e escrever: habilidades de escravos e forros? Comarca do Rio das Mortes, Minas Gerais, 1731-1850, de Christianni Cardoso Morais, disponível na biblioteca eletrônica SciELO (FAPESP/Bireme), clique aqui.
Fonte: Agência Fapesp

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Para cientístas, colugo é o parente mais próximo dos primatas

Quem são os parentes mais próximos dos primatas? Até agora o debate científico sobre essa questão gerava mais polêmicas que respostas. Mas uma análise genômica feita por um grupo internacional de pesquisadores colocou fim às especulações: os animais mais próximos dos primatas são os colugos (Cynocephalus variegatus). O estudo foi publicado na edição desta sexta-feira (2/11) da revista Science.

Também conhecidos como lêmures-voadores, esses mamíferos arbóreos do sudeste asiático não são lêmures, nem voam. Mas o principal traço distintivo desses animais, cuja aparência lembra a de um grande esquilo, é a membrana que se estende entre seus membros, dando-lhes a capacidade de planar entre os galhos das árvores.

A equipe coordenada por Jan Janečka, do departamento de Biociências Veterinárias da Universidade A&M, do Texas (Estados Unidos), comparou o indel (tipo de variação de seqüências de DNA, onde uma unidade foi inserida ou apagada do genoma) dos três membros do ramo dos Euarcontes – primatas, colugos e musaranhos – com o de outras 30 espécies de mamíferos.

Os primatas e os colugos compartilham sete dessas raras mudanças genéticas, enquanto outras espécies de mamíferos compartilhavam no máximo um indel com os primatas. Um dos co-autores do estudo, William Murphy, qualifica essas mudanças como “assinaturas históricas de relacionamentos”.

No segundo estágio da pesquisa, os cientistas utilizaram programas de computador para comparar as semelhanças e diferenças entre 13 mil pares de bases de DNA de cinco ordens próximas – os membros do grupo dos Euarcontes (primatas, dermópteros e scandentia) e as ordens dos roedores e dos lagomorfos (que inclui coelhos e lebres).

Novamente, os dados computacionais revelaram que os colugos e os primatas eram os parentes mais próximos. Segundo a equipe, a descoberta indica que os colugos deveriam ser incluídos na lista de animais prioritários para um seqüenciamento genômico completo.

De acordo com os cientistas, desde 1999, os três grupos – primatas, scandentia e dermópteros – eram reconhecidos como uma só unidade taxonômica – um agrupamento de mamíferos conhecidos como Euarconta (etimologicamente, “verdadeiros ancestrais”).

As relações evolucionárias exatas entre os três grupos de Euarcontes eram inferidas por sua proximidade geral e pela existência de um certo número de características compartilhadas entre os grupos.

Para os pesquisadores, o estudo atual sugere a confirmação de uma das hipóteses levantadas a partir das conclusões de 1999: de que colugos e primatas seriam um só grupo: os primatomorfos, que se separaram durante a evolução de um ancestral comum com os musaranhos – animais também originários do sudeste asiático.

O primeiro passo para testar a hipótese, segundo os cientistas, foi provar, a partir de uma abordagem molecular – que os Euarcontes eram um grupo evolucionário válido, proveniente de uma única linhagem ancestral.

A equipe estudou mais de 197 mil éxons – áreas do genoma humano que codificam proteínas – procurando inserções ou eliminações (variações conhecidas como “indel”), que são mudanças genéticas raras. A equipe encontrou forte evidência para validação do agrupamento dos Euarcontes.

Em seguida, os pesquisadores analisaram as raras mudanças genéticas para ver como elas eram compartilhadas entre os três grupos. “Em resumo, podemos dizer que esses dados moleculares sugerem fortemente que os colugos são um grupo irmão dos primatas”, disse outro dos co-autores, Webb Miller, professor da Universidade Estadual Penn. “Primatomorfo é um termo válido e a hipótese foi bem sustentada pelos dados de indel”, declarou.

Com base nos dados, ele afirma que é provável que os Euarcontas tenham emergido como um grupo taxonômico distinto há 87,9 milhões de anos – durante o auge da era dos dinossauros, mais de 20 milhões de anos antes de sua extinção.

“Essa divergência fundamental foi seguida com relativa rapidez pela separação, há 86,2 milhões de anos, entre o grupo scandentia – que inclui os musaranhos e seus parentes – e o grupo dos primatomorfos – que inclui primatas e alguns mamíferos planadores (dermópteros)”, disse Miller.

No grupo dos primatomorfos, a divisão entre primatas e dermópteros aconteceu há 79,6 milhões de anos, segundo os cientistas. Essa rápida divergência evolucionária deixou períodos de tempo relativamente curtos para o acúmulo de diferenças genéticas – por isso a equipe de cientistas precisou utilizar duas abordagens diferentes.

O artigo Molecular and Genomic Data Identify the Closest Living Relative of Primates, de Jan Janečka e outros, pode ser lido por assinantes da em http://www.sciencexpress.org/
Fonte: Agência Fapesp